05/07/2019 Peac

De quatro em quatro anos, milhares de trabalhadoras de todo o Brasil e outros países da América Latina se reúnem em Brasília para denunciar violências e reivindicar direitos, justiça e uma vida digna a todas as mulheres. Realizada desde o ano 2000, a Marcha das Margaridas segue em sua sexta edição, a partir do lema “Margaridas em luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”, e terá sua culminância nos dias 13 e 14 de agosto, na cidade de Brasília.

Com o objetivo de mobilizar as mulheres em torno da construção da Marcha e dialogar com a sociedade civil sobre a importância de fortalecer a agenda de luta das mulheres no atual contexto sociopolítico por que passa o Brasil, a organização da Marcha das Margaridas realizou a Mesa Redonda de lançamento da Marcha na tarde dessa quinta, 4 de julho, no Auditório da Associação de Docentes da UFS (ADUFS).

Mediada pela professora Sandra Oliveira, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a mesa reuniu agricultoras, pescadoras, marisqueiras, pesquisadoras e estudantes, entre outras, em torno do fortalecimento das pautas relacionadas à vida das mulheres no Brasil.

Representado o Movimento das Marisqueiras de Sergipe (MMS), Geonísia Vieira, mais conhecida como “Nice”, chamou a atenção para a importância da organização das mulheres trabalhadoras em busca de direitos. “Quem não gosta de uma mariscada? Todo mundo gosta, mas ninguém quer saber o trabalho que dá ir no mangue e catar marisco. É um trabalho que só as marisqueiras sabem e podem fazer, pois somos nós que arriscamos nossa saúde e nossas vidas para colocar marisco na mesa dos ricos. É por isso que nós, trabalhadoras de todo o Brasil, devemos seguir em marcha para garantir nossos direito, direito a uma saúde plena e a uma vida digna”, afirmou Nice, moradora do povoado Muculanduba, em Estância.

 

Agroecologia e organização política das mulheres

Para fortalecer as mobilizações para a Marcha a partir do aprofundamento de dados e informações essenciais sobre a luta das mulheres, a geógrafa e professora da UFS Campus-Itabaiana, Laiany Rose, explanou sobre sua pesquisa de doutorado a respeito do mapeamento realizado junto aos movimentos e organizações de mulheres trabalhadoras no Estado de Sergipe. Foram apresentados pela professora dados fundamentais para a reflexão e o fortalecimento da luta das mulheres nos diferentes espaços de moradia e de trabalho.

“A partir das atividades cotidianas relacionadas à agroecologia, à cultura, à pesca, ao extrativismo e ao alimento beneficiado, pude perceber as principais demandas das mulheres para participação nos espaços políticos e de organização social.  Nesse sentido, uma mulher fortalece a outra e um movimento fortalece o outro”, destacou a pesquisadora.

Além disso, a agroecologia foi apresentada como o grande pilar de organização e articulação das mulheres do campo. “A agroecologia é, para nós, mulheres do campo, a articulação de um processo transformador. É através do debate da soberania alimentar que as mulheres camponesas passam a se organizar politicamente, porque são elas as responsáveis pelo manejo do alimento. Essa é a pauta principal que reflete todas as outras pautas, levando por sua vez, à pauta da reforma agrária, pois a condição de transformação ambiental deve estar relacionada também ao direito à terra”, complementou Laiany, enfatizando o registro de 856 mulheres organizadas em 105 grupos no território sergipano até abril de 2017.

Onda lilás

A expectativa é que cerca de 130 mil mulheres ocupem a capital federal em uma grande onda lilás. “O que nos une é a luta por respeito, valorização e dignidade plena, esse é o grande sentido da Marcha das Margaridas. A unidade das mulheres não é ter uma categoria profissional, mas a garantia de uma vida digna. Por isso, Brasília será o palco da luta democrática e da resistência das mulheres”, destacou Ayres Nascimento, da Secretaria de Mulheres da Federação dos Trabalhadores e das Trabalhadoras da Agricultura de Sergipe (Fetase/SE), ao realizar um breve histórico a respeito da organização da Marcha das Margaridas.

O evento foi encerrado com um colorido cortejo pelos corredores da UFS, chamando a atenção da comunidade acadêmica para a pauta das mulheres da cidade, do campo, das florestas e das águas.

As mulheres, instituições e organizações envolvidas com a realização da Marcha das Margaridas 2019 segue realizando mobilizações e atividades preparatórias em diferentes espaços do território sergipano. A previsão é de que a 6ª Marcha das Margaridas reúna mulheres de organizações sociais nacionais e internacionais, incluindo representantes de 17 países, sendo 14 da América Latina.