07/06/2019 Peac

“Quando a gente está fazendo arte, não precisa de muito. Só precisa da inspiração que a gente encontra nos nossos territórios. Arte e poesia também são resistência” (Gênisson “Fio”, Ponta dos Mangues, Pacatuba-SE)

As condições de vida e o cotidiano dos povos e comunidades tradicionais do litoral sergipano e norte do litoral baiano foram poeticamente abordadas durante todo o dia desta sexta, 7 de junho, no XI Encontro do PEAC (EPEAC), que segue até o dia 9 de junho em Aracaju (SE).

A inspiração para a condução dos diálogos ficou a cargo da instalação artístico-pedagógica, ferramenta amplamente utilizada por diversos movimentos sociais para fortalecer a integração dos diferentes saberes e a troca de experiências sobre os modos de vida. No centro da roda, elementos representativos das culturas dos territórios foram dispostos pelas mesmas mãos que cuidam da terra e que jogam a rede no mar para garantir o alimento. Redes de pesca, bandeiras, óleo de coco, bonecas de pano e outros objetos produzidos nos territórios se mesclaram à força dos poemas e das cantorias ancestrais que pulsam firme nos locais sagrados de morada e de trabalho.

Conflitos e ameaças

“A cabeça pensa onde os pés pisam: o que identificamos de conflitos e ameaças nos nossos territórios? E de resistências?”. Inspirados e inspiradas na genialidade de Frei Betto, os (as) participantes do XI EPEAC expuseram casos de conflitos e ameaças aos seus modos de vida e dialogaram sobre as estratégias de luta pelo protagonismo e pela permanência das comunidades em seus territórios.

Especulação imobiliária, restrição ao acesso aos mangues, carcinicultura e a contaminação do rio São Francisco e do Rio Japaratuba foram algumas das ameaças expostas pelas representações das comunidades, como Claudeane Bispo, de Brejão dos Negros, município de Brejo Grande. “Nós lutamos contra os latifundiários. É difícil, mas a gente resiste. Eles tem a malícia, e nós temos a resistência”, ressaltou.

Resistências

Por outro lado, foram destacadas também as resistências que permitem aos povos e comunidades tradicionais fortalecerem-se entre si para enfrentar os conflitos e as ameaças que oprimem seus modos de vida, como as atividades de turismo de base comunitária, os produtos feitos pelas mãos do trabalho e da arte, como as bonecas de pano, o óleo de coco e os artesanatos de palha, entre outros.

“Sem território, as comunidades tradicionais não têm vida. Nós só estamos aqui porque lutamos e precisamos nos juntar mais para lutar, e nossa contribuição é no sentido de se juntar, somar forças. Chegamos em Sergipe e foi muito importante ver os povos de várias comunidades, fortalecer o fazer político, pensar. Quem fala por nós somos nós. E é importante sair dessa condição de objeto de trabalho, de pesquisa, e temos mudado isso fazendo nós mesmos as pesquisas sobre nós”, emocionou-se Wagner Nascimento, coordenador do Fórum de Comunidades Tradicionais da Região da Bocaina, que envolve os municípios de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba, no litoral do Rio de Janeiro.